terça-feira, 19 de agosto de 2008

Seminário BIOSSEMIÓTICA e SEMIÓTICA COGNITIVA

Seminário Avançado de Comunicação e Semiótica
BIOSSEMIÓTICA E SEMIÓTICA COGNITIVA

19, 20 e 21 de agosto de 1998, das 9hs às 17hs
ITAÚ CULTURAL Avenida Paulista 149, São Paulo (SP)

APRESENTAÇÃO por Lucia Santaella (Coordenadora Geral do Evento)
Fundamentos Biocognitivos da Comunicação: Estruturas Organizadas, Funções e Redes

"Nas palavras de Joèl de Rosnay (1997: 29), estamos vivendo neste final de século um verdadeiro choque do futuro resultante sobretudo dos avanços das ciências físicas e biológicas. Enquanto a física e a eletrônica levaram ao desenvolvimento da informática e das técnicas de comunicação, a biologia levou à biotecnologia e à bioindústria. Estamos, sem dúvida, entrando numa revolução da informação e da comunicação sem precedentes que está desafiando nossos métodos tradicionais de análise e de ação.

No cerne dessas transformações, os computadores e as redes de comunicação passam por uma evolução acelerada, catalisada pela multimídia, hipermídia, a digitalização e a compressão dos dados. Alimentada com tais progressos, a internet, rede mundial das redes interconectadas, explode de maneira espontânea, caótica, superabundante. Nesse mesmo ambiente técnico e científico, emergem setores inquietantes, tais como a realidade virtual e a vida artificial.

Cérebros humanos, computadores e redes interconectadas de comunicação ampliam, a cada dia, um ciberespaço mundial no qual todo elemento de informação encontra-se em contato virtual com todos e com cada um, tudo isso convergindo para "a constituição de um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho para as sociedades humanas", enfim, de uma nova antropologia própria do ciberespaço (Lévy 1998: 12).

Segundo Lévy (ibid.: 13), a fusão das telecomunicações, da informática, da imprensa, da edição, da televisão, do cinema, dos jogos eletrônicos em uma indústria unificada da multimídia é o aspecto da revolução digital que tem sido mais enfatizado. Entretanto, esse não é o aspecto mais importante. A par dos aspectos civilizatórios, tais como novas estruturas de comunicação, de regulação e de cooperação, linguagens e técnicas intelectuais inéditas, modificação das relações de espaço e tempo etc., o mais importante está no fato de que a forma e o conteúdo do ciberespaço ainda estão especialmente indeterminados. Diante disso, não se trata mais de raciocinar em termos de impacto (qual o impacto das infovias na vida econômica, política, cultural, científica?), mas em termos de projetos.

A proposta que aqui se segue, de organização de um seminário avançado de comunicação e semiótica, insere-se dentro dessa perspectiva: diante das imensas transformações de que somos participantes, estamos buscando raciocinar através de projetos.

Em vez de propor um evento de massa, tendo em vista uma apresentação panorâmica e necessariamente superficial de algumas questões candentes no contexto da nova realidade digital, optamos por organizar um evento de pequeno porte destinado a pesquisadores, professores e estudantes avançados de comunicação e semiótica que queiram se dedicar ao estudo e debate aprofundados de alguns tópicos específicos e especializados da revolução bio-cibernética.

O foco desses tópicos especializados está na noção das redes de comunicação. Trata-se, sem dúvida, de uma noção que não se faz entender à luz de uma visão estritamente tecnológica. O funcionamento das redes de comunicação apresenta semelhanças, por exemplo, no comportamento do sistema nervoso, do sistema imunológico, nas simulações computacionais e nas redes de telecomunicação. A compreensão desse funcionamento conclama, pois, a interface e cooperação de algumas disciplinas, tais como as ciências cognitivas, as ciências da informação, inteligência artificial e a biologia que, a despeito da especificidade de cada uma, estão lidando com questões que são, antes de tudo, questões comunicacionais. A ciência da comunicação tem, portanto, muito para dar e receber nessa convergência.

O projeto aqui proposto enquadra-se naquilo que Lucien Sfez (1994: 11) caracteriza como o núcleo epistemológico da comunicação "que reúne em torno de pontos comuns grande diversidade de saberes: biologia, psicanálise, mass media studies, instituições, direito, ciência das organizações, inteligência artificial, filosofia analítica etc". Esses conceitos comuns às ciências da comunicação parecem dever constituir pouco a pouco os elementos de uma forma simbólica em gestação.

Trabalhando justamente em prol da gestação dessa forma simbólica, propomos este seminário avançado para o debate das estruturas organizadas, funções e redes como estando nas bases dos sistemas vitais na origem dos sistemas vivos assim como na emergência de uma rede planetária de comunicação."

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