Seminário Avançado de Comunicação e Semiótica
BIOSSEMIÓTICA E SEMIÓTICA COGNITIVA
19, 20 e 21 de agosto de 1998, das 9hs às 17hs
ITAÚ CULTURAL Avenida Paulista 149, São Paulo (SP)
APRESENTAÇÃO por
Lucia Santaella (Coordenadora Geral do Evento)
Fundamentos Biocognitivos da Comunicação: Estruturas Organizadas, Funções e Redes
"Nas palavras de
Joèl de Rosnay (1997: 29), estamos vivendo neste final de século um verdadeiro choque do futuro resultante sobretudo dos avanços das ciências
físicas e
biológicas. Enquanto a física e a eletrônica levaram ao desenvolvimento da informática e das técnicas de comunicação, a biologia levou à biotecnologia e à bioindústria. Estamos, sem dúvida, entrando numa revolução da informação e da comunicação sem precedentes que está desafiando nossos métodos tradicionais de análise e de ação.
No cerne dessas transformações, os computadores e as
redes de comunicação passam por uma evolução acelerada, catalisada pela multimídia, hipermídia, a digitalização e a compressão dos dados. Alimentada com tais progressos, a internet, rede mundial das redes interconectadas, explode de maneira espontânea, caótica, superabundante. Nesse mesmo ambiente técnico e científico, emergem setores inquietantes, tais como a realidade virtual e a vida artificial.
Cérebros humanos, computadores e redes interconectadas de comunicação ampliam, a cada dia, um ciberespaço mundial no qual todo elemento de
informação encontra-se em contato virtual com todos e com cada um, tudo isso convergindo para "a constituição de um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho para as sociedades humanas", enfim, de uma nova antropologia própria do ciberespaço (Lévy 1998: 12).
Segundo Lévy (ibid.: 13), a fusão das telecomunicações, da informática, da imprensa, da edição, da televisão, do cinema, dos jogos eletrônicos em uma indústria unificada da multimídia é o aspecto da revolução digital que tem sido mais enfatizado.
Entretanto, esse não é o aspecto mais importante. A par dos aspectos civilizatórios, tais como novas estruturas de comunicação, de regulação e de cooperação, linguagens e técnicas intelectuais inéditas, modificação das relações de espaço e tempo etc.,
o mais importante está no fato de que a forma e o conteúdo do ciberespaço ainda estão especialmente indeterminados. Diante disso, não se trata mais de raciocinar em termos de impacto (qual o impacto das infovias na vida econômica, política, cultural, científica?), mas em termos de projetos.
A proposta que aqui se segue, de organização de um seminário avançado de comunicação e semiótica, insere-se dentro dessa perspectiva: diante das imensas transformações de que somos participantes, estamos buscando raciocinar através de projetos.
Em vez de propor um evento de massa, tendo em vista uma apresentação panorâmica e necessariamente superficial de algumas questões candentes no contexto da nova realidade digital, optamos por organizar um evento de pequeno porte destinado a pesquisadores, professores e estudantes avançados de comunicação e semiótica que queiram se dedicar ao estudo e debate aprofundados de alguns tópicos específicos e especializados da revolução
bio-cibernética.
O foco desses tópicos especializados está na noção das redes de comunicação. Trata-se, sem dúvida, de uma noção que não se faz entender à luz de uma visão estritamente tecnológica. O funcionamento das redes de comunicação apresenta semelhanças, por exemplo, no comportamento do
sistema nervoso, do sistema imunológico, nas simulações computacionais e nas redes de telecomunicação.
A compreensão desse funcionamento conclama, pois, a interface e cooperação de algumas disciplinas, tais como as ciências cognitivas, as ciências da informação, inteligência artificial e a biologia que, a despeito da especificidade de cada uma, estão lidando com questões que são, antes de tudo, questões comunicacionais. A ciência da comunicação tem, portanto, muito para dar e receber nessa convergência.
O projeto aqui proposto enquadra-se naquilo que Lucien Sfez (1994: 11) caracteriza como o
núcleo epistemológico da comunicação "que reúne em torno de pontos comuns grande diversidade de saberes: biologia, psicanálise,
mass media studies, instituições, direito, ciência das organizações, inteligência artificial, filosofia analítica etc". Esses conceitos comuns às ciências da comunicação parecem dever constituir pouco a pouco os elementos de uma forma simbólica em gestação.
Trabalhando justamente em prol da gestação dessa forma simbólica, propomos este seminário avançado para o
debate das estruturas organizadas, funções e redes como estando nas bases dos sistemas vitais na origem dos sistemas vivos assim como na emergência de uma rede planetária de comunicação."